segunda-feira, 3 de março de 2008

TUDO E O NADA

Sonhar já era algo que não bastava. Olhos parados no horizonte ia construindo as
realidades distantes. Já não suportava viver daquele jeito. O cotidiano esmagava seus
dias. E os dias passavam macetos, insuportáveis.

Fazia uns 30 graus quando ele atravessou a rua para tomar uma água de côco. O posto
tava cheio de pessoas de todas as idades. Mas nada que lhe chamasse mais atenção do que
um cachorro na areia da praia. Ele rolava, corria latindo, e rolava e latia em direção
ao mar, como se estivesse dizendo algo [e na verdade, ele realmente dizia, quem sabe].
A cidade já dava sinais de que o dia chegava ao fim. Naquela sexta-feira, os amigos
encontravam-se para tomar um chope gelado, bater-papo, paquerar e esquecer, talvez, de uma semana chata e desmotivadora. "O fim-de-semana é o remédio pra todo mal", pensou.

[O cachorro corria na direção do sol ao longe. Latindo. E o posto ia esvaziando PEaos
poucos].


Pegou o ônibus e procurou um canto pra encostar. O dia tinha sido cheio, os bancos estavam lotados e o trânsito uma loucura. Quase não deu tempo de atender todos os pedidos. O engarrafamento fazia de cada minuto, uma eternidade. Alguns rapazes faziam muito barulho na parte de trás, e uma senhora bem gorda, deitava seu peso sobre suas costas, fazendo-o quase sufocar.

Quando chegou na sua parada, saltou do bolo humano como num parto, como se nascesse novamente, como se desgrudasse de um visgo nojeto que todos os dias lhe consumia, indo e voltando do trabalho. Meteu a chave na fechadura na porta, ligou a luz, ligou a TV, e sentou na sua poltrona. Queria tomar um banho, mas também queria ficar ali, quieto, era sexta-feira, os bares estavam cheios, sábado não tinha trabalho [os bancos não abrem, graça a Deus!]. Ficou ali, de frente pra novela assistindo as mesmas tramas, adiantando os diálogos óbvios, pensou em tudo que deixou pra trás e no nada que conquistou até aquele dia.

Adormeceu.

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