sábado, 16 de fevereiro de 2008

ÔNIBUS NÃO!!!!

Faz mais de dez anos que não ando de ônibus. Coitado de quem anda nos coletivos manauaras. É um deboche, uma verdadeira putaria o que fazem com o cidadão que infelizmente tem que usar esse meio de transporte. Ontem rodando na cidade vi um ônibus totalmente fudido. Sem o pisca [alias, sem farol nenhum], todo batido, velho, sujo e lotado de uns pobres coitados. Tenho visto uns ônibus com uma frase assim: 500 ÔNIBUS NOVOS. EU SOU UM DELES.

Imaginem os velhos.
Inclusive uns velhos rodaram por um tempo com essa frase nova. Acredita nessa?
É preciso reclamar. É preciso dizer não, basta, chega desse estado de coisas que nunca melhoram. O resto é propaganda. É preciso abrir os olhos e cobrar de quem a gente coloca no poder.

Senão isso não acaba. O povão que não tem como comprar um carro, tem que se submeter a essa condição pra chegar no trabalho e ser ainda mais explorado.

Sem consciência não tem resistência. Sem resistência não há mudança.
E sem isso quem vai de ônibus vai continuar indo tipo gado empilhado, um sobre o outro, levando de quebra, uma boa encochada.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

SOBRE TODAS AS COISAS

2ª parte [Tempo]

Ele olhava algumas fotos de pessoas que nunca existiram de verdade. Retratos de um tempo que tinha ficado pra trás. Sorrisos falsos. Dias de mentira. Amores distantes. Na janela os pingos da chuva escorriam criando imagens distorcidas, figuras fugazes que se desfaziam diante dos seus olhos. O tempo corria lentamente como se arrastasse todas as angústias da cidade. Levantou pra procurar uma bagana de cigarro, acendeu - suas mãos tremiam. Uma brisa fina assobiava com um grito e às vezes um sussuro, às vezes um uivo surdo. Sugou a brasa do cigarro como se buscasse na fumaça oxigênio. Precisava pensar em algo, uma saída, "Por quê?" perguntava olhando pro espelho do banheiro. Tirou a última lâmina que restara. Os pingos da torneira lhe desviavam a razão. Pareciam estampidos de uma arma. "Por quê?"Sentou na tampa da latrina e olhou para o teto. A iluminação precária, piscava e criava sombras na parede que lhe faziam sorrir. E ele gargalhou, gritou, até chorar. Os pingos do sangue quente misturavam com urina e a água empoçada. Ele suava. Ele sorria. A lâmina fina entrando na carne. Ele entrando na sua mente pra descansar. E não existia medo nem dor. Só silêncio e o tempo e o nada.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Senha 23

Brasileiro é uma coisa, adora uma fila. Não só adora como faz o maior cu doce em público antes de entrar na fila e encoxar o sortudo(a) da frente. Êta povo fresco. Alguns protagonizam um draminha, outros exprimem todo seu prazer de forma mais reservada. O office boy malandrão, por exemplo, é do tipo "porra, olha o tamanho dessa merda!", antes de virar a cabeça a procura de bunda secáveis. A dondoca é daquelas que solta um tímido "meu Deus", suficiente pra chamar a atenção e começar a distribuir charme no recinto. Existe ainda o tipo trabalhador, que liga pro chefe só depois de 30 prazerosos minutos na espera, quando ainda está a 30 metros do balcão - seu discurso é sempre um "tá complicado, acho que vou me atrasar". Grávidas, idosos e portadores de deficiência - o politicamente correto necessidades especiais - geralmente esperam pouco tempo, por isso tentam aproveitar ao máximo a situação. Repare como sempre tem contas demais pra pagar, produtos demais no carrinho do mercado e por aí vai.

Penso, creio e bato o pé: somos todos masoquistas enfileirados, aguardando prazerosamente a oportunidade de ficar míseros 2 minutos no guichê. É foda, brasileiro aprendeu a sofrer, tomou tanto gosto pela coisa que hoje até pega senha. Vai entender.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

SOBRE TODAS AS COISAS

1ª parte [a redenção]

Tava lá parado, estático, perdido olhando a estátua de bronze - um anjo que apontava uma espada pro céu. Acertou seu relógio que ganhou numa rifa - de pulseira barata e fedida a couro ruim - com o sino da velha igreja, que badalava o meio-dia. Catou uns trocados no bolso, pensando em tomar um café. Nem pra isso tinha. Olhou as coisas ao redor, daquela cidade de lugar nenhum, e pensou em morrer. "Sim, a morte é uma saída!" O coração apertava. Engolia a saliva com dificuldade de quem segura o choro. As pessoas passavam de lá, pra cá, vivendo suas tramas, de enredos sutis. Sentiu uma vontade de trocar uma idéia com alguém. Fixou a vista num casal deitado na grama rala. Ela lia um livro. Os dois sorriam. Crianças brincavam, chutando uma bola vermelha, gritavam, corriam. A pulsação acelerada fazia ele tremer. A fome apertava lascivamente. Queria ter algum pra comprar um cachorro quente da barraca. O cheiro do tempero forte, quase o fazia desmaiar. O molho borbulhava. O som podia ser ouvido dali de onde ele estava.
O relógio já marcava uma da tarde. "O tempo é um sonho oco...". Levantou, foi em direção ao pequeno lago sujo, ficou de olhar perdido, tentando esquecer outras misérias.
"Mundo fudido do caralho", pensou. Sentiu o toque em seu ombro. Era uma mulher com traços simples, que olhava nos olhos com uma clareza que lhe abrandou o espírito. "É seu?", perguntou a mulher. Nas suas mãos, um livro velho, que ele mesmo já havia lido repetidas vezes. "Sim", respondeu. "Deixe no banco pra outra pessoa ler. Não quero mais. Sei a história. Não gosto muito de final feliz. Fica pra você, se quiser" A mulher apenas sorriu e seguiu ao entorno do lago, batendo o livro embolado nas mãos. E ele olhava alguns marrecos, gansos e patos que deslizavam mansamente, fazendo a vida flutuar.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Pensando Completo

O Todo Phoda, o bastião da liberdade de informação. O último rincão da fuzarca nacional, alerta: 'vamo' ficar de olho nos próximos capítulo da política baré. Os caras tão enchendo o cu de grana e o povo tá sentando na banana.

[...]

Tem político que se arvora da transparência, mas a grana manda e cala a boca. Todo político tem seu preço e uma conta bancária na Suíça. É a dura verdade que a gente ainda não sacou.

[...]

Fica a opção do voto em branco. Pense nisso e mande essa cambada pra longe da sua carteira.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

MAMONAS ASSASSINAS - RÉQUIEM



Preconceito é uma merda. Cega as pessoas. Eu fui preconceituoso muitas vezes. [Ainda sou]Todas em que fui, não dá pra reparar. Mas mexendo lá pelos meus CDs, encontrei um dos Mamonas. [Por conta de meu preconceito não deu pra não ver quanto eles foram bons].
Ainda bem que a arte tem o poder de eternizar.

Se o rock é atitude, os caras tinhas. Eles foram os três patetas do rock, no caso, os cinco.
Criaram coisas bastante legais, debochando as mesmices da época. Fazendo um humor simples, muitas vezes, tosco. Mas cantaram a alegria, aquilo que a gente sempre quis cantar por ai na cara dos Gugus e Faustões e os caralho a quatro. E foi isso talvez que tenha facilitado o sucesso da banda. Podemos pensar que qualquer bosta faz sucesso no Brasil... Se tiver um bom produtor, faz. Na regra vai uma lista onde figuram Netinhos, Latinos, Kellys, Leandros e etc da vida.

Os caras fizeram o escracho do esculacho. Morri de ri do besteirol das letras, coisas muito bem sacadas como "como um modess cê me trocou" ou "embalagem de iogurte inviolável". Muito bom. Ou ainda os inventivos "o nosso work é tocar" ou os ininteligíveis "baiano fala oxente e come vatapá"

Os Mamonas criaram uma criatura no rock nacional de boa estatura. Se divertiram a valer falando merda e todo o Brasil despretensioso curtiu [menos eu com minha babaquice preconceituosa, não aproveitei].

Mas é melhor reconhecer a bosta feita, do que permancer nela, então lá vai: os caras foram foda. E depois de tanta bagunça, que descansem em paz.

Este é o meu réquiem pra vocês.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Ladeira de Meu Deus

Para baixo todo santo ajuda. Maldito ditado. Deveria ser o oposto, pensava Euclides. O dia mal havia começado e já naquela hora o sol tostava o melão do pobre estagiário. Transpirava horrores, no esforço de ainda chegar à agência com algum pingo de honra. E talvez com algum resquício do perfume para disfarçar o odor inalante de cc.

Maldita sudorese.

Um tempo atrás ouvira falar de um tratamento capaz de dar cabo nessa reação biológica e salgada que Deus lhe impôs. Hiperidrose, segundo Dr. Villela, tem cura. A cirurgia soa de maneira simpática nos ouvidos de Euclides: simpatectomia. Até aí, tudo bem. O problema é a faca, que entra seca e grosseiramente nas costelas de Euclides ao escutar o preço da operação. Por enquanto teria que continuar sob a alcunha de bica humana.

Maldita camada de ozônio.

Euclides nunca mais usou desodorante aerosol com CFC. A natureza agradece, o Protocolo de Kyoto agradece e, principalmente, o bairro inteiro agradece. Nas vezes em que se atreveu a usá-lo provocou a ira de suas axilas. Certa vez a reação foi tremenda que o episódio ficou conhecido como a “tragédia francesa”. Neste dia o noticiário das sete teve recorde de ibope. Até porque a circunstância impedia qualquer um de sair seguramente de casa.

Maldito meteorologista.

Choveu no inferno. Em questão de segundos um dilúvio caiu do céu. Desses que nem Madre Tereza teria imaginado para sanar o problema da seca no Nordeste. Só lhe restava pensar: o que é um peido pra quem já está na merda? Pelo menos agora poderia disfarçar o suor.