domingo, 10 de fevereiro de 2008

Ladeira de Meu Deus

Para baixo todo santo ajuda. Maldito ditado. Deveria ser o oposto, pensava Euclides. O dia mal havia começado e já naquela hora o sol tostava o melão do pobre estagiário. Transpirava horrores, no esforço de ainda chegar à agência com algum pingo de honra. E talvez com algum resquício do perfume para disfarçar o odor inalante de cc.

Maldita sudorese.

Um tempo atrás ouvira falar de um tratamento capaz de dar cabo nessa reação biológica e salgada que Deus lhe impôs. Hiperidrose, segundo Dr. Villela, tem cura. A cirurgia soa de maneira simpática nos ouvidos de Euclides: simpatectomia. Até aí, tudo bem. O problema é a faca, que entra seca e grosseiramente nas costelas de Euclides ao escutar o preço da operação. Por enquanto teria que continuar sob a alcunha de bica humana.

Maldita camada de ozônio.

Euclides nunca mais usou desodorante aerosol com CFC. A natureza agradece, o Protocolo de Kyoto agradece e, principalmente, o bairro inteiro agradece. Nas vezes em que se atreveu a usá-lo provocou a ira de suas axilas. Certa vez a reação foi tremenda que o episódio ficou conhecido como a “tragédia francesa”. Neste dia o noticiário das sete teve recorde de ibope. Até porque a circunstância impedia qualquer um de sair seguramente de casa.

Maldito meteorologista.

Choveu no inferno. Em questão de segundos um dilúvio caiu do céu. Desses que nem Madre Tereza teria imaginado para sanar o problema da seca no Nordeste. Só lhe restava pensar: o que é um peido pra quem já está na merda? Pelo menos agora poderia disfarçar o suor.

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